segunda-feira, 3 de agosto de 2015

É chegada a hora de dar tchau

Após longos oito anos, eu tomei uma enorme decisão. O blog precisa acabar. Eu venho lutado fortemente contra a maré da vida nos últimos meses, numa posição muito difícil, longe das pessoas que eu mais amo, longe do meu país e sufocada por uma cultura estranha. Durante muito tempo eu pensei que não queria viver, que precisava da morte para acabar tudo, para sentir paz interior, porque a vida em si é muito caótica, em trânsito tende a ser infernal.

As relações têm me mostrado que preciso amadurecer e muito muitas ideias. Preciso recriar uma autoestima que a sociedade na minha volta fez questão de destruir. Preciso acreditar que tenho direito sim de ter amor, de querer uma família, de querer ir além e que não há nada de errado com esse pensamento. Preciso acreditar, acima de tudo, que mereço mais, que mereço melhor.

O blog não tem culpa nenhuma disso, ele é apenas parte de um processo, de uma longa caminhada que eu dei início na faculdade e que eu encerro na entrada do doutorado. Acho que, como todas as coisas da vida, teve um belo início, meio e fim. Mas como diz a banda Las pastillas del abuelo, "hay que saber quando parar".

Não é o fim da minha vida virtual, pelo contrário, acho que agora eu posso finalmente partir para uma plataforma mais política, mais voltada para o meu tempo e onde eu exponho menos a minha vida e mais o meu elaborado e refinado pensamento como comunicadora. Não é privação, afinal eu sempre fui uma pessoa mais aberta e, apesar de por muitos anos ter me sentido mal por ser assim, hoje eu percebo que é importante dividir e compartilhar.

Não vou excluir esse pedaço da minha história. As páginas daqui, que preenchem buscas do Google com o meu nome, vão seguir on-line. No entanto, eu preciso dessa pequena morte. Acho que foi Mia Couto até que disse, em algum dos muitos livros que eu já li dele, que às vezes a gente precisa se matar para seguir vivendo. É mais ou menos isso.

Depressão é um ciclo, não uma doença, não uma desculpa. É um ciclo que vai e vem e todo mundo vive e tem sua importância em viver o círculo até o fim. Mas cabe a cada um saber quando é hora de transformar a roda em reta e seguir adiante. Agora que se foi minha crise dos 6 meses, que começou a nascer em mim um desprendimento dos que estão distantes, que surgem finalmente no horizonte as novas perspectivas, agora é a minha hora.

Vou subir nesse trem antes que seja tarde. Não é uma busca por felicidade, porque feliz eu sou e muito. É aceitar que, depois de muito lutar contra as ondas de um mar bravo, a maré vai me levar se eu flutuar calma e tranquila.

Se o amor não me trouxe esse conforto, então dele que eu não posso depender ou esperar mais nada. As pessoas que me amam de verdade tem me mostrado isso a cada dia, que quando o sentimento é real, tudo se dá um jeito, sem conflitos, sem brigas, sem destruir casas e vidas. Aquilo só causa vontade de descer poço abaixo não pode ser alimentado e sim exorcizado, mesmo que aos poucos, no tempo de cada um.

Que venha mais um porto na minha vida, afinal sou amaldiçoada (ou abençoada) por cidades que têm um escape fluvial para o novo mundo. Que agora sim nasçam as amizades verdadeiras que hão de nascer em terras lusitanas, que agora venha o amor que eu tanto preciso e as novas oportunidades de ser amada como mereço. Que venham novos estudos, novos debates.

quarta-feira, 1 de julho de 2015

Saudades

Pequenos pingos, chove lá fora. O cheiro de terra fresca sobe com o mormaço. O calor e as essências, que se misturam com frutas da estação e filtro solar, me lembram muito de casa. Não é saudades, é nostalgia. É acordar no meio da noite com a certeza de que se está em casa, sentido o ambiente acolhedor e imaginando que a sua mãe está na cozinha preparando café.

Sim, senhores, são quase seis meses já. Passou rápido, quem diria? Para os que fizeram suas apostas, agora é a derradeira hora de comprovar o resultado. É aqui que posso encher a boca e dizer que tenho saudades, saudades da minha casa, dos meus gatos, da minha família, dos meus amigos, de comer um churras, de beber chimas na Redença, de frequentar a Cidade Baixa, de ver um filme na Olaria, de andar de Cohab lotado, de ir ao Barra, de passear na Orla, de viver Porto Alegre ao seu máximo.

Saudades que se dá em cada ponto, em cada vírgula. Tudo começa a se transformar em motivo para lembrar de algo, alguém, uma história. Ao mesmo tempo, as histórias vão ficando cada vez mais estórias, mais vagas e nebulosas. Os amigos seguem, distantes, na tela do computador. A vida em Lisboa começa a ter um ritmo lento, parece que estabilizou, mas logo vem uma nova etapa.

Hoje está chovendo e esses são os dias, poucos, raros, em que eu me sinto mais sensível. São os dias em que eu quase confundo Lisboa com Porto Alegre, em que eu busco pelo Mercado Público e subo a Avenida da Liberdade me sentindo na Independência. Esses são os dias em que aquela dor que incomoda todos os dias se torna insuportável. Ainda bem que aqui chove uma vez por mês.

Nesses seis meses eu vivi uma vida. Eu conheci poucas pessoas, mas eu já ganhei uma família, por isso sei que se eu estivesse em Porto Alegre agora, eu sentiria o mesmo por Lisboa: saudades. Apesar de ser pouco tempo, as relações foram intensas e a cidade cresceu em mim. O país me encanta a cada dia e as raízes se formam e se fincam no chão, me prendendo a essa terra.

O peso rola na balança do voltar e ficar todas as noites. Deitada na cama eu deixo a nostalgia me guiar pelas ruas do meu Porto. Enquanto eu crio certezas de que meu lugar é aqui e devo ficar, crio incertezas sobre o futuro, sobre as mudanças por vir. E, ao mesmo tempo que se sabe tudo, não se sabe nada.

Viver fora não é uma busca pela felicidade inatingível. É, sim, uma procura constante pelo lar que se deixou para trás, é cotidianamente racionalizar o que se sente e se dividir em duas pessoas para seguir vivendo. Deixar o seu país é estar aqui sorrindo à mesa de uma casa portuguesa, mas sem deixar de pensar no que estão fazendo as pessoas que você ama do outro lado do Atlântico. É quase como ser um agente secreto, pois temos que mascarar sentimentos, mastigá-los e engoli-los boa parte do tempo.

Aprender a lidar é impossível. Não tem uma regra, ou um conjunto de regras, que explique como não surtar. A gente acumula e desaba constantemente. Aos poucos é que a gente começa a perceber que vive num ciclo, como o da lua, e que tem dias e dias. Quando chove, é inevitável não marejar os olhos e não pensar no caos da Esquina Democrática, com abulantes vendendo sombrinhas a qualquer custo.

Não tem segredo mesmo. Depende de cada um. As pessoas me perguntam hora ou outra como faz para sobreviver. Não se faz, se sobrevive apenas. A gente acaba se contentando com gostos e cheiros, com fotos e conquistas dos amigos, com uma conversa de Skype com a mãe e os gatos. As crises vem e vão, como o sol nasce e se põe.

Às vezes, vamos ter pessoas maravilhosas e compreensivas a nossa volta, para dar um colo, um abraço e dizer que está tudo bem. Outras, vamos afundar sozinhos num buraco negro de sentimentos escuros e só nós mesmos poderemos nos salvar. O importante é saber, como diz o Wander Wildner, que não se "consegue ser alegre o tempo inteiro", mesmo estando em Porto Alegre.

quarta-feira, 8 de abril de 2015

Sobre amor e liberdade

Let Them Talk by Hugh Laurie on Grooveshark

A gente sempre acha que nunca vai amar de novo. Quando fecha-se um ciclo, nossa primeira reação é pensar que c'est fini e colocamos em nossas cabeças que não queremos mais sentir aquilo. Isso acontece porque, muitas vezes, vemos os relacionamentos de uma maneira muito distante da realidade. Criamos expectativas em relação a alguém antes dessa pessoa existir. Quando finalmente nos envolvemos, pesamos medidas e escolhemos entre ser/estar com ele ou a nossa liberdade.

Amar não precisa ser uma escolha cheia de exigências. Eu aprendi e sigo aprendendo que é, sim, possível estar com alguém, valorizar aquilo e manter nossa liberdade. No início, eu não acreditava que isso fosse praticável, porque assim como os outros, eu fui doutrinada para a monogamia e para achar que estar com alguém é tomar posse e ter o controle. Grande erro, pois ao tomar posse de alguém, sufocamos a pessoa e nos limitamos a viver muito pouco, estragando toda e qualquer possibilidade de se ter algo mais e perdendo um tempo imenso de vida, afinal, os 20 não voltam.

Não existe segredo, a verdade é que é preciso se desprender de si mesmo e aceitar que somos TODOS livres, homens, mulheres, todos mesmo. Quanto mais liberdade você exige e oferece, menos você realmente precisa dela e mais vontade você tem de estar na gaiola do amor. A certeza de que você pode simplesmente levantar, sair e fazer o que quiser, é o que te dá confiança numa relação. Não o oposto, como a maioria pensa.

As pessoas complicam demais e tiram conclusões precipitadas. Também tem o fato de que vivemos ainda em uma sociedade extremamente machista e a liberdade sexual da mulher só ocorre num plano de luta. Sofremos com isso, uma vez que somos constantemente repreendidas por pessoas que nos cercam. Entretanto, não podemos nos deixar abalar com isso e fazer o que esperam de nós. Aliás, expectativa é algo que se pode abolir do vocabulário, se você quiser ser feliz. Em qualquer sentido!

Quanto menos você esperar da vida, mais ela te surpreende e mais possibilidades ela te oferece. Não é ser pessimista, é não ser otimista. É aproveitar aquele instante com aquela pessoa e ESTAR com ela, de fato. Se deixar envolver sem prender e prender-se. Aquela história de deixar a gaiola aberta que o passarinho volta é verdade. Coloque em prática, ame a você mesmo antes de tudo e não trate as pessoas como insubstituíveis, pois ninguém é, em nenhuma plataforma da vida.

Não existe nada melhor do que deitar e rolar com alguém sem saber o que será do amanhã, sem planos futuros. É o famoso "sem compromisso". Mas veja bem, não é assim por medo de ter algo sério, tudo pode se transformar em algo sério um dia. É justamente o contrário, assumir que hoje é sem compromisso, porque amanhã pode ser com. É permitir que o outro tenha o mesmo que você, é igualdade e respeito. Isso é amor. É querer sempre o melhor para ambos os lados e não apenas um anel no dedo e um papel assinado.

segunda-feira, 23 de março de 2015

Drama?

Nos últimos dias eu estou vendo na prática como é ter 20 poucos anos e ser consciente disso. Vou explicar: recebi uma super educação da minha mãezinha. No grito ou não, ela me ensinou a cuidar das minhas coisas, a viver num ambiente limpo, a valorizar as pequenas doações em prol de um cotidiano melhor. Eu cresci levantando cedo todo dia e arrumando minha cama, guardando minha roupa, fazendo meu próprio nescau. O legal de sair de casa é que você percebe o quão único você se torna porque você realmente lava a louça, cozinha, lava roupa, sabe usar material de limpeza e, pior, gosta de viver num ambiente que segue pequenas regras.

Morar com uma galera é engolir toda a sua boa educação em seco, fechar os olhos, respirar fundo e regredir muitos anos da sua vida. Num primeiro momento você tenta estabelecer um raciocínio, tenta mostrar vantagens, mas logo é vencido pelo cansaço e uma pilha de louça que ocupa a pia da cozinha há 3 ou 4 dias. Mesmo tendo um excelente relacionamento com algumas pessoas da casa, você não se sente em casa. E nunca vai! Porque você é o problema. Meu estopim foi hoje, ao ouvir que estou fazendo drama. Claro, a situação se deu por problemas mais graves que uma louça, entretanto, me fez parar para pensar, se eu que sou mimada, ou eles que são relaxados demais.

Como eu disse para um grande amigo meu, o que me deixa mais triste é saber que pessoas que jogam lixo em qualquer lugar, cagam e andam pro meio ambiente, vivem na sujeira e acham limpeza perda de tempo, são o futuro da nossa humanidade. Sim, esses são os jovens de 20 e poucos anos que em breve, muito breve, vão tomar o mundo. Vovó já dizia que a convivência fode as relações, mas pelo que eu estou vivendo, eu posso admitir que para os jovens de hoje, não existem relações, porque é uma idiota como eu fazendo tudo e o resto de boa, achando que o melhor é "ver no que dá".

Acho essa atitude mesquinha e brochante, quase tão péssima quanto a tentativa da Risqué de fazer uma linha de esmaltes femininos agradecendo aos homens pela "ajudinha no cotidiano". Essa publicidade péssima ilustra muito do que eu estou dizendo. Lavar uma louça e fazer um jantar não é um favor e não deve ser agradecido. Limpar, cozinhar, estar presente é fazer parte de relacionamento, seja amizade, seja mais que isso, é se comprometer com os outros, se colocar no lugar deles e, principalmente, não fazer o que você não gosta que façam para você.

Morar em grupo te faz perceber o quanto as pessoas são egoístas e pensam só na sua situação. Quando some algo delas é que elas abrem a boca e reclamam, é quando elas querem impor regras. Quando você reclama de papel no vaso sanitário ou cabelo no ralo você é fresca. Quando desaparece algo do bem comum, as pessoas dão de ombros, acham soluções temporárias (lê-se: gambiarras) e seguem suas vidas. Quando alguém tem que ligar para algum serviço (água, luz, gás, assistências técnicas no geral) é aquela lamentação com lamúria do "pra quê se está bom assim?". Dá uma depressão ver gente que não consegue ter um mínimo senso de autoliderança querendo dominar o mundo.

Como lidar? Não sei, minha válvula de escape tem sido rir disso tudo, lavar mais louças e seguir a vida. Também preciso eu aprender a relevar um pouco mais. A única coisa que me preocupa é me tornar uma dessas pessoas, jamais.