quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Precisamos falar sobre Kevin


O filme em questão é um retrato de uma cultura que muito se fala, pouco se conhece. A sociedade norte-americana parece próxima de nós e muitas vezes assumimos ela como uma velha companheira. Porém, seus valores e costumes são completamente diferentes dos nossos e, por isso, não podemos sair julgando e apontando falhas que não compreendemos a origem.

Em Precisamos falar sobre Kevin, filme que retrata um relacionamento falido entre mãe e filho com problemas comportamentais, essas características culturais vem à tona. Claro que o longa peca em muitos aspectos, como, por exemplo, não mostrar a vida social de Kevin fora do convívio familiar, além de insistir numa posição freudiana demais de que a mãe é culpada pela frustração e angústia do filho.

No entanto, a obra retrata uma coletividade que se nega a discutir e falar a respeito de problemas mentais. Para quem não sabe, Kevin é um menino transtornado e que acaba por cometer um massacre em sua escola, como os casos Columbine e Newtown, mais recente. Aliás, desde o último incidente, só se escuta falar nos “Estados Unidos: país das armas”.

Não creio que esse seja o único problema. E os diretores do longa deixam isso claro, afinal Kevin mata os colegas com um simples arco e flecha. O livre comércio de armas nos EUA facilita, mas não é o mentor dos Kevins. O que leva jovens como esse a realizar atos de tamanha grandeza é muito maior e tem origens na psicologia/psiquiatria. Sim, isso mesmo! Parece óbvio, só que nos EUA eles não têm essa visão.

Para os americanos, uma criança que não fala ou gesticula até os dois anos de idade não precisa consultar um médico, cena muito marcante no filme. Eva, a mãe, leva Kevin a um médico que afirma que ele é perfeitamente normal. Depressão, autismo e esquizofrenia são detectados com relutância e muitas vezes tarde demais.

O tempo todo, a mãe pressente que Kevin é “mau” e que não há ligação afetiva entre eles. Ao invés de levar ele a um psicólogo (reação normal no Brasil), ela tenta dialogar com o marido. Este, que não está presente o tempo todo, desconhece o próprio filho e crê que suas atitudes estranhas sejam habituais, por ser um garoto.

Sinceramente, a carência que Kevin exala é fora do comum desde o princípio. Essa necessidade constante de atenção, que para eles é algo irrelevante, para nós é preocupante. É por essas e outras que não vemos episódios como Realengo se repetindo numa vórtice à la Columbine.

Os americanos precisam prestar mais atenção em seus filhos. Não adiante limitar a venda de armas, se não houver educação. Todos esses massacres são pedidos desesperados de jovens que se sentem rejeitados, excluídos e são, de fato, pessoas doentes que precisam de ajuda. Não é vitimar os culpados, porém aprender com os fatos passados a evitar futuras repercussões.

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